domingo, 3 de janeiro de 2010

Revisitando o Natal


Após a confraternização familiar da noite natalina, me refugiei na fazenda com alguns entes e me pus a refletir sobre todas as fases da minha vida e o olhar que tinha sobre o Natal em cada uma delas.

Na infância, a magia imperava, apesar dos meus pais nunca terem incutido a crença no Bom Velhinho em mim e na minha irmã. Mesmo assim o momento era de encanto: roupa e sapatos novos, meias-calças brancas de bolinhas da mesma cor, cabelos arrumados e a ansiedade do encontro com os primos e da surpresa dos presentes. Nessa época, ainda não tinha o paladar apurado para as delícias de uma boa ceia. O foco era o encontro, a correria, o rasgar dos papeis de presente, a euforia de compartilhar o brinquedo recém conquistado e saber que no fim da noite, já com a meia-calça com fios puxados, ele iria para casa comigo.

Como sou de família evangélica, em todas as noites de Natal celebramos um culto para resgatar o real significado dessa comemoração: o nascimento de Jesus. Esses cultos traziam (e ainda trazem) reflexões e fazem com que todos participem, como numa dinâmica de grupo, dando a sua contribuição a partir de um depoimento sobre o tema proposto. O desse ano foi GRATIDÃO.

Quando cheguei a adolescência, esses cultos tornaram-se enfadonhos. Os presentes tornaram-se lembrancinhas e não existia mais a vontade de usar a melhor roupa. Os encontros eram bons. Revia meus tios, primos e principalmente meus avós, que na mesma data comemoravam aniversário de casamento.

Comecei a apreciar os pratos natalinos, mas sentia saudades da encenação do nascimento de cristo com os primos Fabrício, Juninho e Maurício caracterizados dos três Reis Magos, e de tio Tâno vestido de Papai Noel no lendário Natal de Aracajú. Mas a fase era de transgredir! Queria sair, namorar, viajar e aquele encontro me sugava para as minhas raízes, me sacudia do mundo de “ilusões” que eu vivia, me trazia para o seio da minha família, me fazia refletir e se tornava perturbador.

A minha adolescência não foi nada fácil. Graças a Deus tive um super Anjo da Guarda e a paciência interminável da minha família. Sempre tive uma comunicação aberta com os meus pais, mas determinadas peripécias eram inconfessáveis. Tropecei, errei, caí, levantei. Amadureci e aprendi a dar o valor merecido à família. Esse resgate aconteceu aos poucos, num processo de reencontro com a essência maternal.

Me apaixonei e mergulhei de cabeça nessa relação. Conheci o amor através dos meus filhos e o Natal passou a ter um significado maior. Perdi meu avô ainda grávida do primeiro bebê e soube que a partir daquele momento os nossos Natais não seriam os mesmos. A alegria de vovô era ver a família reunida: filhos, genros e noras, netos e bisnetos. Amava as comidas, as orações de mãos dadas e os carinhosos presentes que recebia. Se recolhia cedo. A ausência de vovô ainda me dá uma sensação de vazio.

Assim como os meus pais, sempre disse a verdade aos meus filhos sobre a existência do Papai Noel. Mas a vida faz bem o seu papel, fechando os ciclos, se tornando uma repetição. Lemos histórias sobre o nascimento de Jesus, fazemos orações pela paz mundial, preservação da natureza e pelo fim da fome. Visto neles as melhores roupas e sapatos, apesar de neste ano ter levado por engano um sapato do Bernardo para o Cristovão, obrigando-o a ceiar de chinelos.

Sinto neles a mesma emoção que tinha quando criança, ao ver as luzes da decoração da cidade, a linda árvore enfeitada com presentes, o entusiasmo de reencontrar os priminhos. Vejo em mim, hoje, o amor dos meus pais, o prazer em estar com os meus, em me reconhecer nas crianças, em fazer parte da minha família propagando entre os meus filhos a tradição do Natal e transmitindo os valores reais dessa festa.

A minha GRATIDÃO desse ano foi pela vida dos meus pais e pelo apoio que recebo deles, foi pela amizade e colaboração constante de Aline, pelo comprometimento e doação irrestrita do pai dos meus filhos, pela existência feliz dos meninos e por ser quem eu sou hoje, resultado da minha trajetória.

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